2013, o ano que acabou ontem.

Com o fim do governo Bolsonaro, termina o ciclo de protestos iniciado em junho de 2013. É preciso criar uma nova oposição.

Alexandre Borges
3 min readJan 2, 2023
Curva de adesão a uma nova ideia, marca ou produto

Todo profissional de marketing conhece o gráfico de difusão de novas ideias. O ciclo começa com alguns poucos inovadores (2,5% do total) e “adotantes precoces” (13,5%). Numa segunda fase, entra a maioria (68%), algo como 2/3 do total. Ao final, os retardatários (16%).

Podemos identificar claramente o padrão no ciclo das manifestações da classe média brasileira iniciados em junho de 2013 (lembre que classe média no Brasil é, grosso modo, quem tem renda de 3 a 7 mil reais/mês). Esse estrato da população, seguido por parte da elite, foi às ruas manifestar um sentimento difuso de cansaço em relação a dez anos de governo petista. De preto, ocuparam praças, interromperam o tráfego e chegaram até a escalar o prédio do Congresso Nacional.

A partir de 2015, com a mais profunda crise econômica da história brasileira, com queda do PIB de -3,8% (2015) e -3,6% (2016), e as primeiras revelações da operação Lava Jato, os manifestantes passam a se vestir de verde e amarelo e pedir impeachment de Dilma Rousseff, liderados pelo MBL — Movimento Brasil Livre (vejam o documentário “Não vai ter golpe”).

Com a vitória de Jair Bolsonaro em 2018, uma parte minoritárias dos movimentos, que pedia “intervenção militar”, ganha protagonismo e palco. A agenda autoritária e antidemocrática passa a dar o tom das manifestações governistas. Aberrações como o pedido da volta do AI-5 e louvores a torturadores, especialmente o infame coronel Brilhante Ustra, saem das trevas ideológicas.

Influenciadores e lideranças governistas abraçam o negacionismo antivax, ajudando a atingirmos o inacreditável recorde de 700 mil mortes por covid-19. Seguem ataques ao “sistema”, especialmente ao judiciário e à imprensa livre, já que o Congresso, domesticado pelo orçamento secreto, se prestava a uma genuflexão diária ao executivo.

Seguem episódios de violência análogos ao terrorismo, como o assassinato brutal de um aniversariante em Foz do Iguaçu por um agente penitenciário tresloucado. Toda oposição é demonizada, qualquer voz dissonante é considerada “comunista” e “traidora da pátria”. O fratricídio sai do controle, terminando com o emblemático episódio da dep. Carla Zambelli (PL-SP), ex-ativista do FEMEN, que pode ter custado a reeleição de Jair Bolsonaro.

A posse de Lula encerra o ciclo, com o devido banho de realidade para os herdeiros das manifestações de 2013, radicalizados pela maior enxurrada de fake news já vista. Sempre haverá gente revoltada que acreditará em populistas, especialmente se o discurso puder ser resumido em “você é perfeito, o inferno são os outros”. Quem são os outros? Qualquer grupo que o populista escolher como bode expiatório.

O país precisa cicatrizar suas feridas, refazer os laços de amizade, solidariedade e companheirismo, para reconstruir uma oposição liberal e conservadora que espelhe os ideais de grande parte da população sem apelar para pautas obscurantistas e divisivas, desenhadas habilmente por políticos inescrupulosos e seus acólitos para explorar a credulidade popular.

Adeus, 2013. Que comece um novo Brasil.

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