Imane Khelif não deveria competir em esportes femininos
A argelina Imane Khelif venceu a chinesa Yang Liu e é medalha de ouro no boxe feminino, categoria meio-médio, até 66 kg, por decisão unânime dos juízes. Ela dominou a luta com facilidade, para a surpresa de ninguém.
Khelif não é transgênero e quem diz isso, por ignorância ou má fé, apenas atrapalha o debate sobre o que realmente interessa: mesmo tendo sido considerada mulher desde que nasceu, numa vila rural e pobre da Argélia, ela deveria competir em esportes femininos, especialmente o boxe?
A atleta diz que sempre foi reconhecida em seu país como mulher e não há qualquer dúvida honesta sobre isso. Na Argélia, país muçulmano, homossexualismo é crime, previsto em lei, com pena de prisão e multa. Ela não estaria representando seu país se não fosse considerada mulher por lá.
Minha posição sobre esse caso é clara: Khelif não deveria estar competindo contra mulheres biológicas. Neste artigo, explico por que acredito que sua medalha de ouro deveria ser devolvida e ela deveria ser desclassificada, mas também apresento argumentos contrários para que você possa formar sua própria opinião.
Não estou aqui para fazer bullying ou demonizar Imane Khelif, que merece empatia por sua condição congênita, mas isso não muda o fato de que ela tem vantagens que são injustas em competições com mulheres biológicas.
Como tudo começou
A polêmica em torno de Khelif começou quando a IBA excluiu a argelina do Mundial Amador de 2023, alegando que ela não atendia aos requisitos para competir entre mulheres.
A IBA foi banida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) devido a acusação de corrupção, falta de transparência e até suspeitas de tráfico de drogas, além de ligações próximas demais de seu presidente desde 2020, o russo Umar Kremlev, com o regime de Vladmir Putin. Por conta das polêmicas, o COI assumiu a organização do boxe nas Olimpíadas de Paris 2024.
O COI permitiu a participação de Khelif nos jogos e, logo na primeira luta, sua adversária italiana, Angela Carini, desistiu em 46 segundos sentindo fortes dores no nariz por conta dos socos que recebeu.
A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, disse que a luta não foi justa e comentou: “atletas que possuem características genéticas masculinas não devem ser admitidas em competições femininas. Não para discriminar alguém, mas para proteger o direito das atletas femininas de poder competir de igual para igual”.
Sexo, Gênero e Biologia
Desde o colégio, você sabe: cromossomos XX? Menina. XY? Menino. Em praticamente toda população mundial, essa configuração cromossômica explica o desenvolvimento das características sexuais primárias e secundárias típicas de homens e mulheres.
Há exceções raras, como a Síndrome de Klinefelter (XXY), a Síndrome de Turner (X0) e a Síndrome de Insensibilidade Androgênica (XY com características femininas). Imane Khelif é descrita como portadora de uma desordem de diferenciação sexual (DSD) com hiperandrogenismo, que causa níveis elevados de hormônios masculinos.
Atletas intersexo, como Khelif, têm cromossomos XY, que dão características físicas masculinas desde o nascimento, como maior densidade óssea e musculatura típicas de homens. São corpos masculinos, independente da configuração genital.
É provável que Khelif não tenha desenvolvido um órgão sexual masculino, mas isso, espero convencer você, não tem absolutamente nada a ver com seu desempenho esportivo e sua competitividade com mulheres biológicas.
Atletas intersexo têm sido motivo de polêmica nas Olimpíadas e não é de hoje. O Comitê Olímpico Internacional e outras federações estabeleceram diretrizes exigindo que atletas com diferenças de desenvolvimento sexual (DSD), como Khelif, devem reduzir seus níveis de testosterona para competir, mas isso não muda sua musculatura, altura, força e demais características que fazem (e fizeram) toda a diferença na competição.
O porta-voz do COI, Mark Adams, disse em entrevista coletiva que a Imane Khelif “nasceu mulher, foi registrada como mulher, vive sua vida como mulher, luta boxe como mulher, tem passaporte de mulher”. Não tão rápido.
Uma das vozes mais respeitadas nesse debate é a da Dra. Debra Soh, neurocientista canadense com Ph.D. em psicologia pela York University, em Toronto. Ela é conhecida por seu trabalho como pesquisadora e divulgadora científica, com foco exatamente nas diferenças biológicas entre os sexos. Sua tese de doutorado envolveu o uso de neuroimagem funcional e estrutural para estudar a hipersexualidade em homens.
Soh diz, com todas as letras, que ignorar as diferenças biológicas entre homens e mulheres compromete a integridade das competições esportivas. Ela afirma que atletas com cromossomos XY, como Khelif, possuem características físicas como maior densidade óssea, maior massa muscular e níveis naturalmente mais altos de testosterona. Esses fatores dão uma vantagem considerável em esportes de contato como o boxe, onde a força física, a resistência e a capacidade de recuperação são cruciais para o desempenho.
A Dra. Carole Hooven, bióloga e professora de Harvard, também opinou sobre o caso. Ela explica que atletas com condições que resultam em desenvolvimento sexual diferente, como a deficiência de 5-alfa-redutase (5-ARD), frequentemente têm testículos internos, cromossomos XY e níveis de testosterona típicos masculinos.
Durante a puberdade, esses níveis elevados de testosterona proporcionam benefícios físicos, como maior força muscular e massa óssea, que se traduzem em vantagens nos esportes.
Hooven enfatiza que reduzir os níveis de testosterona em atletas que já passaram pela puberdade masculina não elimina essas vantagens, pois os efeitos anabólicos da testosterona, mesmo sem sua conversão em di-hidrotestosterona (DHT), permanecem altos.
Ela cita estudos que demonstram que a presença de testosterona, mesmo sem DHT, ainda proporciona aumentos na massa muscular e força, o que coloca essas atletas em uma posição de vantagem desleal em competições femininas.
Os Argumentos Contrários
Há quem defenda a participação de Khelif e de atletas como ela.
O COI argumenta que as decisões devem ser baseadas em “ciência e justiça”, e não em “preconceitos”. O Comitê afirma que não há “consenso científico”. Raramente há consenso científico em qualquer assunto, mas neste caso a posição mais prudente e correta do COI deveria ser, considerando a “dúvida científica”, manter as competições femininas como sempre foram.
Outros sugerem que o esporte precisa “evoluir” para “refletir uma compreensão mais ampla e inclusiva de gênero”. É uma posição política, subjetiva, solipsista, sem qualquer base no senso comum e na biologia.
Khelif não deveria competir contra mulheres biológicas
Minha posição: a argelina não deveria competir contra mulheres biológicas, especialmente no boxe, onde a força física faz toda diferença.
Ela possui características físicas que dão uma vantagem injusta. “Ah, mas ela perdeu em Tóquio nas quartas de final”. Sim, tinha 21 anos e perdeu para a irlandesa Kellie Harrington, que acabaria levando o ouro. Coisas do esporte. Com 25, ela se mostrou literalmente imbatível.
A força física é crucial no boxe, o que é óbvio. É fundamental para a potência dos socos. Os atletas realizam treinamentos específicos para isso. Uma luta pode terminar por nocaute.
A resistência muscular é vital para manter o desempenho ao longo de uma luta, que pode durar vários rounds. A força física ajuda os boxeadores a manterem a intensidade dos golpes e a defesa, especialmente com o cansaço durante a luta. A estabilidade, que também depende da força dos músculos e articulações, reduz o risco de lesões, como torções e contusões.
O condicionamento cardiovascular também é essencial. A combinação de força e resistência cardiovascular permite que os boxeadores mantenham o ritmo forte durante as lutas.
Quem finge que não vê tudo isso merece ouro em hipocrisia.