Silvio Almeida e uma lição do marketing para a elite progressista

Alexandre Borges
3 min readSep 6, 2024

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O risco de usar pessoas como bandeiras é que elas têm vontade própria

Nesta altura, podemos considerar Silvio Almeida um ex-ministro em atividade (não muita atividade, diga-se). Por mais que ele esteja despontando para o anonimato, como diria Stanislaw Ponte Preta, sua trajetória meteórica como celebridade woke merece algumas linhas.

Almeida é um acadêmico marxista (perdoem a redundância) que usou o identitarismo para chegar à esplanada dos ministérios, não sem antes servir como um “símbolo” para parte da elite progressista woke que viu nele um bom avatar de suas causas. O nome pomposo dessa maracutaia roubada da publicidade é tokenismo.

A estratégia é tão usual quanto arriscada e, como passei mais de duas décadas da vida trabalhando em marketing e publicidade, tenho dupla cidadania e posso fazer uma ponte entre as disciplinas quando é o caso. Agora, por exemplo, é o caso.

Todo publicitário de ponta já passou pela desgastante experiência de ter que convencer um anunciante a não usar uma celebridade para endossar seu produto. Por mais que você tente levar uma estratégia de comunicação criativa, adequada, consistente e única, a chance de ver seu cliente querer usar a própria verba para contratar Luciano Huck ou Ivete Sangalo para o comercial de TV, para o evento de final de ano da firma e tirar fotos com ele estará lá.

Por que não recomendamos o uso de celebridades na comunicação publicitária, salvo em raríssimas exceções, como uma Gisele Bündchen no camarote na Sapucaí? Porque se der muito certo, o consumidor esquece a marca e só lembra da celebridade, que vampiriza o investimento para sua própria imagem. Se der errado e o consumidor não ligar para a comunicação, o anunciante jogou dinheiro fora.

O mais grave, claro, não é disso.

O risco realmente sério para a marca é que celebridade também morre de overdose, bate na mulher, atropela gente bêbado ou vai preso por estupro. Sempre? Claro que não, mas o risco é alto o suficiente para não se atrelar uma marca ou um produto a alguém que você evidentemente não tem controle. Lembrou de Tiger Woods ou Lance Armstrong? Pois é.

A relação da elite woke, liberal-progressista, com Silvio Almeida, foi de amor à primeira vista. Negro com credenciais acadêmicas e um livro com um bordão, o tal “Racismo Estrutural”, uma impostura insustentável num debate honesto, mas que forneceu um shibboleth que se tornou muito popular nesse clube e em suas franjas.

Assim como a Nike teve que lidar com os escândalos de Tiger Woods, esta panelinha esnobe e afetada vai ter que lidar com seu endosso a Silvio Almeida. A saída, a curto prazo, será espernear e culpar o mensageiro, mas com o tempo convém repensar a estratégia de usar escudos humanos para suas causas. Deixem essa tática com o Hamas que, ao menos, é mais experiente e lida melhor com a consequências.

Um dos maiores financiadores do MeToo, movimento que fez a denúncia contra Silvio Almeida, foi ninguém menos que Harvey Weinstein. É claro que o woke washing serve exatamente para blindar escroques ricos como ele e uma elite hedonista, niilista e alienada, uma doença social que caminha para um suicídio civilizacional, mas uma civilização com uma elite como essa realmente não deixará saudade.

O ministro passa, mais um fusível que queima para proteger a rede, mas o wokismo nefasto e a estratégia tribal, que só serve para dividir a sociedade, segue. Se a lição de que usar tokens for aprendida por seus patrocinadores, é mais provável que mudem sua tática e não a estratégia.

Silvio Almeida é uma fraude, um predador sexual, um acadêmico medíocre que usou atalhos woke para chegar ao primeiro escalão do governo? Para seus patrocinadores na elite progressista, pouco importa. Nunca foi sobre ele, mas sobre como ele serve a um propósito de avançar suas causas coletivistas e sinalizar virtude.

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