Tcho-re!

Um rápido bate-papo matinal entre nós para começar o dia.

Alexandre Borges
5 min readJan 12, 2023

Uma tradição japonesa que ajuda a explicar a proverbial produtividade da terra do sol nascente é o 朝 礼 (pronuncia-se “tcho-re”), uma reunião diária de aproximadamente dez minutos, com todos de pé, para acertar as prioridades do dia. Num típico encontro como esse, todos os envolvidos na organização estão convocados.

O encontro é comum em escolas, escritórios e todo tipo de empreendimento. Nele, os participantes trocam informações, novidades, coordenam as agendas, avaliam os resultados da véspera, definem metas e prioridades, e começam o dia bem orientados e direcionados, sabendo exatamente o que deve ser feito. Funciona. Basta compromisso, pontualidade, foco, clareza e tempo determinado de duração.

Uma conversa matinal sobre as notícias do dia pode ser o nosso “tcho-re”. Não seria um “jornal”, claro, o mercado está bem servido de jornais. Teríamos uma seleção de algumas notícias que merecem atenção e breves comentários sobre elas. Ainda não tenho o formato final, mas estou estudando opções. Seria algo assim:

12.01.2023

Bom dia!

Vamos aos destaques dessa quinta-feira, 12 de janeiro. Há 294 anos, em 1729, nascia em Dublin, capital da Irlanda, Edmund Burke, o pai do conservadorismo moderno. Que sua sabedoria única ilumine o mundo atual, tão carente das suas ideias. Hoje é também aniversário de John Lasseter (65), diretor de criação e gênio por trás da Pixar, o estúdio que revolucionou a animação. Viva!

Há três anos, morria sir Roger Vernon Scruton, filósofo inglês que tive a honra de conhecer em Londres em 2017. Ícone do conservadorismo atual, a vastidão de temas que abordou na vida é impressionante. Era um polímata e merece ser lido e relido sempre. O documentário da BBC “Por que a beleza importa”, estrelado por ele, tem que ser visto pelo menos três vezes por todos.

MPF está de volta.

Depois de quatro anos de um sono criogênico, o Ministério Público Federal parece que está voltando, aos poucos, às suas prerrogativas de fiscalizar o poder executivo e legislativo.

Hoje é um clichê das conversas de botequim que o judiciário, em especial o STF, está “extrapolando” suas funções e há bons argumentos que defendem a tese. O que não se fala é que a omissão do MPF em fiscalizar as autoridades do país está na raiz desse protagonismo.

Nos tempos de Cláudio Fonteles (2003–2005), Antonio Fernando de Souza (2005–2009), Roberto Gurgel (2009–2013), Rodrigo Janot (2013–2017) e Raquel Dodge (2017–2019), a gritaria contra o Supremo era episódica, já que raramente se questionava o alcance do seu braço. Não mais.

O Ministério Público é um órgão independente e está subordinado à Procuradoria Geral da República, chefiada hoje pelo baiano Antônio Augusto Brandão de Aras, do qual teremos poucas saudades quando sair do cargo. Seu mandato termina em agosto deste ano.

Aras foi escolhido por Bolsonaro, ignorando a lista tríplice, e conduzido duas vezes ao cargo. Sua atuação foi marcada pelo fim da Operação Lava Jato e pelo inédito alinhamento com a presidência. O PGR é o único brasileiro que pode processar o presidente e a blindagem fornecida por Aras está na raiz do protagonismo recente do STF, que ocupou o vácuo deixado por ele e seu braço direito, a ultrabolsonarista vice-procuradora Lindôra Araújo.

De todas as omissões, ficará para a história a atuação da PGR nos tempos da pandemia, em que todas as ações do governo Bolsonaro não foram apenas perdoadas, mas justificadas. O engavetamento do relatório da CPI da Covid foi o ápice dessa história, página infeliz da nossa história.

Não há democracia sem um Ministério Público presente, atento, atuante e que entende sua responsabilidade com o cidadão.

A subprocuradora-geral da República Lindora Maria AraújoFoto: Gil Ferreira/ Agência CNJ (27.jun.2013)

Governo divulga gastos de Bolsonaro com Cartão Corporativo

Em 4 anos, Jair Bolsonaro gastou R$27.621.657,23 no cartão, ou R$ 32.659.369,02 corrigidos pela inflação, uma fatura que é de todos nós. Na média, gastou menos que Lula e Dilma, segundo o Poder360, e mais que Temer.

O Brasil ainda vai fazer o devido reconhecimento ao governo do vampiro que, de sanguessuga, não tinha nada.

Brasil diz não ao vandalismo bolsonarista

Segundo o Datafolha, um raro consenso no país polarizado: quase todos os brasileiros condenam a barbárie de domingo. É uma oportunidade política rara para uma reconciliação nacional que um estadista deveria saber aproveitar. Se vai, é o que veremos.

Lula se mostra empenhado em pacificar o país do seu jeito, fazendo declarações veementes mas, longe dos holofotes, costurando acordos políticos que mantenham todos, inclusive adversários, nas suas mãos. De novo, o interesse do país fica em segundo plano.

Ibanez continua na geladeira. STF se mostra (quase) unido.

Por 9 votos a 2, o governador do DF Ibanez Rocha segue afastado e o pedido de prisão de Anderson Torres está mantido. Os dois que votaram contra, para surpresa de ninguém, foram os ministros indicados por Jair Bolsonaro.

Na votação, o STF mostra que está unido, com as exceções óbvias, em torno das decisões de Alexandre de Moraes. É um recado importante para os políticos e para a sociedade brasileira. A Suprema Corte, com o apoio do governo atual, não vai recuar. Bolsonaro sabe disso e está apavorado, com motivos. Acuado, deve apostar ainda mais no caos. A ver.

Americanas, a Enron brasileira?

O alegado rombo de R$ 20 bilhões das Lojas Americanas, anunciado ontem com estardalhaço pelo noticiário econômico, promete agitar os mercados de hoje. O valor de mercado da empresa até ontem era de R$ 11 bilhões.

E aí, gostou do “Tcho-re”? Mande suas sugestões e ideias, serão muito bem-vindas. Até amanhã!

Alexandre Borges

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